domingo, 26 de agosto de 2012

     Casarões e desvelos
 

       À vista de um casarão de fazenda, quantos pensamentos nos açoitam. Pensamentos que não se acomodam. A começar pela sua construção. Em que circunstância, por qual motivo foi construído e a quem de começo abrigaria. As suas portas e janelas, a preocupação com a segurança nos daria uma imagem de como foi esse primeiro morador e como quis sua casa. Supostamente um protetor, se inserido no contexto patriarcal que nascera. Afora o espírito da arquitetura que predominava à época, os vários janelões revelariam o destemor do dono, um corajoso. Um curioso; seu desejo era de ver o inalcançável através da estradinha que leva embora da fazenda. Queria pela janela; da comodidade da  cadeira de sua sala chegar onde nem imaginava que se lhe fosse possível. A um mundo que por ser tão dele, dele; talvez mais se distasse. Um sonhador.
      A escolha dos tijolos ou "adobes" como chamados, traria a noção da importância do fortalecimento dessa construção, do quão duradoura ele gostaria que essa casa fosse, trazendo à baila sua pretensa longevidade. E o telhado...ah! o telhado. O telhado, ao que parece a esse homem, seria a supremacia da casa. Perfeito, alinhado, simétrico, forte, a mostrar um homem cuidadoso que a toda imperfeição e pecados encobre, que ao "de dentro" esconde. Um sujeito ligado à moral, ao costume de sua gente.  
        A escada. A que faz galgar suas subidas vida afora, larga, limpa, clara, rente à porta sempre aberta para suas chegadas. Um homem pretensioso.
         Sua cautela na escolha da varanda que recebe o indesejado e dali o despede. Que recebe a visita desejada mas deixa à mostra quem dita a hora e as regras para se  adentrar o santuário. Um homem resoluto.
        Quantas janelas, quantos quartos, quantos filhos e hóspedes ele pôde acolher, como e quanto acolhidos foram. Quis muitas janelas. Muitos filhos para muita infinitude dele. Mais gente para publicizar e perpetuar sua história. Um vaidoso. Um incomum, diria de si mesmo.