quinta-feira, 23 de julho de 2020
"Do incerto"
Da terra, os sulcos
Da estrada, a curva
Das folhas, o limbo
E o lombo do gado
Da árvore, a finca
Do morro, a morrência
Dos galhos, o desnorte
E do coração da mulher, o enfado.
"Criando meninas pra casar"
As flores de linha
penduram o tempo da prole
naquele teto sem sol
Onde cupins se alimentam;
O miasma de bolorentos hábitos,
A traça dos d(anosos) costumes,
A dor dum pecado carcomido:
Atenta _ a original Eva;
A aroeira estacada
e a moral tesa
nem o afoito vendaval
pós-moderno leva;
Infelizes, as flores de linha
guardam os tempos
em seus miolos moles. (LL)
sábado, 18 de julho de 2020
"Todo estrelas"
Meus olhos caíram
na dor do poeta na calçada fria:
Não pude mais erguê-los;
Meu queixo caiu
pelo que escrevia:
Nunca mais o levantei;
Meus olhos ainda
passeavam preguiçosos
as estrelas de um blusão surrado,
quando dei por meu alheio...
Eu de mim, já me apartava.
E que entre ter letras,
canetas e ter estrelas
E sobre letras, canetas e sob estrelas...
Ah, mulheres, faz-se fácil entretê-las...!
quinta-feira, 2 de julho de 2020
"Velhice"
Assopra nos meus olhos,
os ciscos não me deixam ver;
Afaga meus cabelos,
minha cabeça dói pensamentos;
Procura em minha mão
uma farpa na linha da vida,
ela me espinha;
Estou em preto e branco agora,
dá-me um vestido colorido;
Enfeita o demais que tenho ouvido:
traz-me um brinco
gota d'água ou grão de areia;
Não posso sair assim,
cega e espinhada, dolorida e feia;
Sigo trilha imaginária vida afora,
outro canto, outra poesia,
Vê, Lice...! lá vou eu me levando embora.
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