sábado, 28 de julho de 2018

Desmembramentos

   


      Três da tarde.
      Doeu
      uma soltura,
      um rasgo,
      um desprendido,
      um deixado.
   
      Alguma coisa
      rompida,
      doloriu cá dentro.
   
      Um vaso sanguíneo,
      um atado,
      um cordão umbrático,
      não sei.
      Foi dor de 'indo embora'.
   
      Um vaticínio.
      Aturdida,
      penso agora.
   
      Pode ser a jura
      de um dos meus amores,
      tido como imorredoiro,
      que se quebrou lá fora.
.

   
   


sexta-feira, 27 de julho de 2018

Como vejo os pássaros que vejo




 No bem-te-vi, um advérbio, um pronome e um verbo que mentem juntos o tempo todo.
 O jõao-de-barro, um copiador. Um sujeito composto pela eterna indecisão humana: casa e asa.
 A rolinha, descrente, o fogo apagou.
 As jandaias verdes são árvores gritadas.
 No quero-quero a repetição e a insistência compulsiva, patológica. Há ali, o completo domínio do inconsciente.
 Os pombos, anacrônicos, vivem a monogamia inadequada ao pós-modernismo. Esse tempo de rir de tudo, de efemeridades, de ausência de valores e de sentido para a vida.




quinta-feira, 26 de julho de 2018

A seiva



   Caminheiro,
   eu não tenho
   mais teu tempo
   fruta verde,
   amarelei o meu.
 
   E se a felicidade
   onde me espalho
   não é mais
   que saber o vivido
   e dele conter
   o divino da história,
   me aquieto
   cerne no carvalho.
 
   Há um vento
   em minhas folhas viças,
   ele assopra
   em meu mundo interno.
 
   Deixo cair
   a sequidão das cascas,
   dos galhos
   e as podridões
   dos meus 'enfins'.

   A calma vida grande
   cá dentro
   de quem virou
   o mundo de possibilidades
   infinda aqui.
 
   Eu estou almada.
   Siga, caminheiro,
   se limite aí fora,
   a ti consola a sorte.
 
   Siga até que um dia,
   quem sabe,
   se atenha, destarte,
   à imensidão dos dentros...
 
 
 

 

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Meus segredos na mão da noite

 

    Flores
    não giram
    ao sol,
    se mentes.

    Barulho
    de peixes
    n'água clara.
    Piscas.

    Teu anzol.
    Noite alta,
    um breu.
    Riscos.
 
    Tudo calado
    e eu
    me espalho
    em ramas
    para o teu lado.
 
 
 

Voações



    Um passarinho 
    entrou 
    na escola, 
    queria
    voar poeta. 
    Um poeta
    entrou
    num ninho, 
    quis
    aquietar-se 
    passarinho. 




quinta-feira, 12 de julho de 2018

Cicio interior



As águas
novas
de um rio,
quando se sabe
ouvi-las,
podem nos contar
como estão
nossas
águas passadas:
se plácidas,
se revoltas.

Pode 
a água nova 
de um rio,
ainda que 
por demais imatura,
nos versejar ritmada,
e feito
a Sibila de Cumas
dizer 
o que nos futura. 





terça-feira, 3 de julho de 2018

Minas


     
    Água na boca
    lágrimas no peito
    suores noturnos
   
    Sem ti 
    oca
    eu oceano