sábado, 29 de setembro de 2012

Caminho nos caminhos...labirintites


                 

       E se a vida for realmente esse labirinto fazendo de cada escolha um caminho que não leve à saída, mas leve ao caminhar, apenas.  Também pode a vida ser um labirinto em que o mote é realmente, achar a porta de saída.
       Há pessoas que deixam essa vida sem achar suas saídas por optarem pelo “labirintear”, por que não? Ora arriscam um caminho só para deixar o outro anterior, e acertam. Ora “riscam” um caminho que supõe ser a saída e erram. Outros ainda, nem traçam caminhos, optam pelo primeiro e se veem fora do labirinto.  Há aqueles que estudam estrategicamente o rumo, se norteam e saem. Outros calculam, tentam, se enchem de esperanças e se perdem das saídas. 
       Pessoas há; que vão por outros caminhos julgados inexistentes, mas reais a elas. O caminho do imaginário, da fantasia, da alucinação e dos delírios. Uma forma de não aceitação do caminhar real. Saem do labirinto pela parte de cima, voam dele envoltos por um filó transparente, finíssimo, tão singular e tão sensível... Usam do imaginário para contrapor às imposições recebidas e causadoras de suas aflições. Desfilam seus sofrimentos por uma tangente desconhecida e opaca para quem se vê do outro lado; até desinteressante para os que se veem no caminhar ponderado. Essas pessoas andam desatentas, desenfreadas, descuidadas e soltas, às vezes voam num “para sempre” e outras vezes ficam como presas libertas. Do lado de fora, mas sobrevoando o labirinto todo tempo. São importantes na composição do labirinto porque se expõem extremamente, são hipérboles. Exemplificam outras formas. E aqui adéquo um neologismo: “sincerizam” mais que as outras.
        Todas são formas de viver, “labirintintivas”. Quem sabe é feliz pelo despreendimento, quem se liberta do labirinto usando o recurso do voar dele. Ou é feliz quem por coragem e ousadia, “labirinteia” a vida toda, arriscando o labirintear.  E o quanto deve se encher de vaidade aquele que acerta o primeiro caminho; ou ainda quem depois de inúmeras e sofridas tentativas consegue se livrar do labirinto. Pode ainda se ver muito recompensado, quem meticulosamente e com toda demora dos projetos, planejou sua saída e conseguiu na primeira tentativa. E quão sortudo se vê aquele que nada fez, andou e encontrou por acaso, o lugar por onde se sai. O labirinto como se vê; é o lugar do estar; da expectativa ou não, da iniciativa ou não, do sofrer e do ser feliz, mais ainda: de se reconhecer caminhante e de conhecer o caminhante que se é.
        Daí a importância do que diz Carl Jung: “Qualquer árvore que queira tocar os céus precisa ter raízes tão profundas a ponto de tocar os infernos”.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Máscara




"Em vão a mulher veste a máscara, continua sempre mulher, ou seja,    louca.
É este dom da loucura que lhes permite ser, em muitos aspectos, mais felizes que os homens.
"
     (Erasmo de Rotterdam)      

            

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Pro dia ficar feliz...



Esse poeta sabe das coisas...




"A verdadeira arte de viajar...
 A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa,
 Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo.
 Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali...
 Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando!"

                     

Mário Quintana




domingo, 9 de setembro de 2012

Minha casa em meu lugar



 
         Rodei o trinco amarelo de ferrugem e empurrei a porta desconfiada, devagarinho. Pela primeira vez em minha vida entrei circunspecta ali. Pisei pé por pé e percorri a sala vazia. Fui a cada um de seus cantinhos. O vazio dali enchia meus olhos. Pisava na poeira fina e em alguns toquinhos de madeira esparramados pelo chão. Recoloquei nosso sofá amarelo creme, o televisor, a mesinha ao lado do sofá com os livros de meu pai, pus ali até o cinzeiro dele. Sentia o cheiro das guimbas. Via a estante cheinha de livros perto da poltrona.
       Quis mais, Entrei no nosso quarto, meu e de minha irmã. Até o cheirinho da roupa de cama limpíssima eu senti. Veio junto o cheiro do mofo de quando era inverno. Chovia dias e dias sem parar, naquele sudeste goiano. Nosso guarda-roupa de tão grande nos permitia toda bagunça possível. Nosso material de escola, nosso espelho de ver gente pequena. Nossa vida. Nem sempre tão interessante, mas sempre colorida pelos matizes da infância que  nos traz tanta esperança. Corri para o quarto de minha mãe, pela primeira vez ela não responde ao meu pedido de socorro. Que saudade! Sempre à mão o "help" dela; fiquei habituada. A cama grande onde pulávamos e caímos, exaustos. A porta do quarto dos meninos estava encostada. Empurrei. As dobradiças rangiram de velhas. Senti vontade de pegar no colo meu irmão pequeno. Meu irmão maior, o parceiro. Uma espécie de "supereu" meu. Mais ou menos o que Freud diz que dá o "juízo" pra gente. Ele era a cara do juízo. Sempre ponderado. A cama do meu irmão era séria. Até os brinquedos do meu irmão tinham um jeito sério. 
       Fui mais. Entrei na cozinha. Nossa mesa, nosso fogãozinho a gás, nosso fogaozão à lenha. A porta da cozinha de duas folhas. É assim que se diz, duas folhas. Aquelas que o trinco aferrolha as duas faces e fecha no meio do portal, ou melhor ainda; aquela que o trinco abre as duas partes e a gente fica logo de  frente para o pé de pêssego do quintal, pela manhã. E corre para o balanço, e sente o cheirinho dos cítricos do lugar. Então; a porta estava lá, igualzinha. O mesmo ferrolho. Não resisti. Abri o trinco e fechei os olhos para sentir meu quintal. O quintal mais lindo do mundo. O meu. O pé de pêssego, nosso balanço de corda, o trieirozinho que leva ao pé de manga. O pé de goiabas vermelhas. A poça d' água que se formava debaixo dele. A área. O banheiro da área. A cisterna. Tínhamos cisterna. Que nome é esse cis-ter-na? O balde, a carretilha, o murinho. No murinho, o trincado onde o cimento rachou, remendado. Os tanques ali perto da caixa d'água. Redondões, grandões, Como o mundo era grande no meu quintal. Acho que era por isso que eu cantava tanto. 
       Abri os olhos diante de um mundo mais cru. De plantas secas no quintal, da casa vazia, do cheiro de pó e a sensação de sentir uma vala sob os pés. É que a casa da minha infância havia sido destruída. Ela só existe aqui dentro de mim.  
       
         
 

 


terça-feira, 4 de setembro de 2012

Todos nós



                                    

 Um ser humano
 Dois sermos humanos
 Bilhões de seremos humanos...





Poemetro de lamentações





Fui pela rua neoconcreta
Nem sólida nem líquida
Technogélica
Concretamente zonza
Tontadamente completa
E entrei num muro duro
De lamentações descrentes
De homens quase dementes
Tortos de pedir
Fracos de insistir
Indecentemente ricos
Sexos falidos
Colocam pedidos
Em canudinhos
Goela afora dos deuses
Vem a chuva e lava a tinta
Entra areia que vem com o vento
As letras enlatadas truncadas
As frases derrubadas quilometradas
“Ora” que demora
E a reza que num chega