domingo, 31 de março de 2019

"Inexatidões"



  Aqui
  pelos meus becos,
  muros e paredes
  não me encastelam;

  Lá e cá,
  as tantas mulheres
  que me habitam
  andam imprecisas;
 
  Não se estancam.
  À vontade,
  transitam inexatas,
  sem dar lugar ao inflexível.




"Coisas da vida"



                         
                          

     "Na vida tudo tem seu preço..."
      sua pressa,
      seu peso,
      seu passo,
      sua pedra,
      sua prenda.




terça-feira, 26 de março de 2019

"Depois"


Quando tu ias,
meu tempo
se desorientava.

Noites
não dormiam
aflições,

Madrugadas
abriam bocas
quebrantadas,

Manhãs
acordavam
anuviadas,

E a tardinha
ia longe
para te ver
de perto.

Hoje
quando vais,
as noites
se deitam ninadas;

As madrugadas
ganham colo,
as manhãs
me chegam tintas,

E a tardinha
já nem precisa
se afastar
tanto de mim
para buscar-te.



quinta-feira, 21 de março de 2019

"We"


   Essa vida
  já me calou
  tanta gente,
  meu bem,
  Só não quer
  calar nós dois.





quarta-feira, 20 de março de 2019

"Anoxia"



     Suporta,
     se importa,
     se porta.
   
     Pobre mulher:
     sem janela
     nem porta.

   
   
   

terça-feira, 19 de março de 2019

"Romã"



  Amarelo rosado:
  é romã a maçã
  do teu rosto
  que seguro em Palma,
  na palma
  da minha conquista.

  E passo
  horas assim,
  a te laurear
  cascas,
  sementes,
  lascas
  e a fruta vermelha,
  chapiscada
  de tua luta interna.

  É trono,
  coroa real
  de rubis;
  Roma
  é teu lugar
  em mim:
  palácios Flávio,
  Augustano,
  Quirinal,
  Domiciano,
  Tiberiano,
  Laterano.
  És-me epopeico.

  És romã.
  E na fruta,
  e em mim,
  e em Roma,
  Casa Dourada,
  adorada casa.






quinta-feira, 14 de março de 2019

Fim de flor



 Murcha, ela
 quis sossego.
 Cansou-se
 do ser flor;

 Se despencou
 do pé
 e saiu de cena
 como se a suspirar
 mussitasse:
 ... a-çu-ce-na...!




sexta-feira, 8 de março de 2019

Os peixes do feminino



Há um sono mulher,
peixes dormidos no feminino, 

Mas que de olhos arregalados,
nadam semimortos
por glaciares Antártida;

Açaimados, nadam 
pela política da América;

Abstrusos, nadam
pelas minas de pedras 
e pelo animal África;

Que de olhos aguados
nadam pela Ásia,

que nas artes
e na moda Europa,
nadam desolados;

E na Oceania,
e onde mais se acham,

fogem de arpões,
quebram fronteiras,
se indispõem com demarques;

E embora sonados,
Sempiternamente, nadam.
Nadam lá dentro do feminino.

E ainda que nunca acordem
onde em sonhos estiveram: nadam.





terça-feira, 5 de março de 2019

"Jogo de luz"


 Viver é espanto.

 Algumas vezes
 pássaro,
 outras vezes
 espantalho,
 noutras ainda,
 espantalho
 no espelho.

 Viver é espanto,
 meu amigo:

 é espantar-se
 com o outro,
 espantar o outro
 ou espantar-se consigo.




domingo, 3 de março de 2019

"Anfibologia"


     Uma, duas, 
     três... e tantas 
     outras mais...!
     
     Conte-me, 
     ex-amor.
     Conta comigo, rapaz. 





sexta-feira, 1 de março de 2019

Espontaneidades

                                       

   Viu a roseira esmaecida,
   um céu sem róseos
   e ao seu lado,
   uns olhos despetalados.
  
   Sem pensar duas vezes,
   
   escondeu o dia apoucado
   num dos bolsos 
   e do outro, 
   sacou uma noite estreladia.



     

Fantasias


 E neste
 Carnaval, 
 eu de lua, 
 você de só.