quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Cerca viva


 Eram coloridas
 as asas
 dos teus cuidados,
 encheram meu viveiro
 de vaidade

 Asa de emboscada,
 teu desejo:
 arranhou meus quereres

 Toca de áspide,
 tua conquista,
 quase
 minh'alma cordeira
 corrompeu

 Teu ciúme,
 vala profunda,
 menestrel,

 e o anel que tu me tinhas
 folgou-se, se perdeu.




quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Na vinha



De dentro da gavinha
de uma videira
eu te sonhava,

E espiralada
mudei-me
para o seu lado

Suei seu 'vinaigre',
agarrei suas ideias,
prendi seu tom suave

Ensaiei seu gestual,
encenei seus pesares:
eu te estive

Pela primeira vez,
vida, eu fui em ti.



sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Assenhoreamento



 É ensurdecedor
 quando
 o rosicler
 da minha
 madrugada
 invade 
 o nevoeiro
 do teu peito


segunda-feira, 19 de novembro de 2018

"Dos vazios"



    Chacoalha
    a lata,
    procura
    o rosário,
    a escola,
    o trabalho;
 
    Vira a lata,
    procura
    documento,
    pai,
    registro
    ou um tiro
    pela culatra;
 
    Sua
    no retângulo
    de metal
    o mundo
    redondo.
    Quão fundo
    é o coração
    do container.
 
    Fareja
    no Estado
    um amor
    que degradado,
    um apego,
    um ego.
    O casto,
    no imundo.

    Procura
    levezas:
    carro, avião,
    carona, vento
    e o chão
    de sua Bahia
    no mapa,
    sempre
    à deriva.
 
    Se ilha
    na poesia
    responsiva.
 
    Revira
    espaços
    impostos,
    se entala,
    se fura,
    posto em postas,
    se desiguala.
 
    Vasculha,
    fuça,
    inquire,
    busca
    o inseto
    que espicaça,
    a seringa
    extratora,
    um pico
    que fure
    o balão cheio
    dos vazios
    da procura.
 
 
 
 

domingo, 18 de novembro de 2018

Vivência de vocábulo


Também
a palavra se enche
de estar
uma coisa só
no mesmo
lugar de ser,
o tempo todo,
e  exige da gente
que a levemos
para um passeio
na vida 
de outra palavra,
vez em quando. 




sábado, 17 de novembro de 2018

"A dança de cada um"



Uns dizem:
"vou na valsa."
Tudo bem,
eles podem.

Eu já
com o tempo
puído,
não me demoro:
voo na valsa.




sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Nós dois



 Eu rego
 as maçãs
 da nossa fruteira,
 e de que vale?
 Elas já foram
 colhidas.

 Eu guardo
 roupas passadas,
 amarrotadas
 por dentro.
 Fomos encolhidos.

 Então ordeno
 nossos livros
 na estante:
 mansos ateus.

 Descrentes,
 mas ali
 juntinhos,
 grudados,
 penso que
 falas de livros
 se adoçam.

 E faço isso
 tão sem razão,
 pois já estão lassas
 nossas histórias.




Asa norte



quarta-feira, 7 de novembro de 2018

domingo, 4 de novembro de 2018

"It´s not done yet"


 


      Ontem,
      meu coração
      _ seda crua _
      quase 
      me arrebenta
      as costas.
      
      Era um amor
      bem passado
      atrás de mim.





sábado, 3 de novembro de 2018

Lá vai ela



No cerrado
de frutinhas 
sem graça,
a gabiroba esnoba
seu bom gosto
agoiabado róseo,

Cheira 
a estilo frutado 
como ninguém. 
Um chapéu
de cinco pontas
e aquele 
amareladinho viço
que só
a gente moça tem.

Gostosa, 
irreverente
e afetada,
como a cato,
a gabiroba rouba
toda a 'outubridade'
do mato.






quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Fadigas narcísicas



    Nem os narcisos
    do vaso ao lado do espelho
    nem nossa história,
    dobrada com primor
    sobre si mesma,
    resistiram aos próprios
    encantos tantos, meu bem.
   
    Cansaram-se de suas graças.
   
    Deitaram tontos
    em suas belezas soporíferas;
    se ensimesmaram.
 
 


De novo