quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Subtrações


   Tinha olhos
   furta-cores.
   Ora roubavam 
   meu vinho, 
   ora me roubavam 
   a brancura d'alma.




terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

O silêncio das minhas mãos



 Juntei fatos, 
 fotos, falas,
 suspiros,saudades,
 ... e enfim,
 tantas palavras reuni,

 Mas não tenho dedos
 que te escrevam:
 todos eles 
 ficam mudos, quando 
 é pra falar de ti.




sábado, 16 de fevereiro de 2019

Olhos vazios



A mulher
abre a janela,
não sente a rua.

Um passarinho
faz piruetas
no fio de ouro
daquele pescoço
quase sem aorta,

O moleque
empina
a cidade na pipa,
e faz cócegas
naqueles
olhos sem graça

E o dia
faz renda
no horizonte
e fura
a tela surreal
de seu tempo;

Mas enredada
no linde
de seu ontem,
nem os olhos
da mulher
atravessam a janela.




Naturaleza da dor



Na boca
vermelho urucum,
a brasa,
a flor da malagueta.

Nos olhos,
a perfídia
cinza azulada
das folhas da embaúba.

No peito
marrom jenipapo,
um gravatá
de abrolhos.

Pés
embaiadores,
passo ida,
passo volta,
num negrume jatobá.

Ao fim,
tinha boca, olhos,
peito e pés urtiga.



sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Aposta de corrida



  E agora, a postos, 
  meu bem, 
  vamos ver
  quem de nós dois
  chega primeiro
  ao coração
  de outras pessoas? 




quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Hedonê



A vida pedia mais.
Casas arregalavam portas, 
E um céu, suado, 
deitava suas estrelas no mar.  

No meu sonho,
ele abria as asas
e me voava.
Era um anjo de mim.





quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

"Quando vem a distância"



         Foi ficando longe, desprendia-se de quem ela amava e de quem odiava, se afastava do doce da fruta e das florzinhas de jardim. De modo igual, soltou o vivido e a esperança do vindoiro.
         A cada dia se distava mais dos torrões de terra, do caule das árvores, das folhas, das rochas, do seu formigueiro. Apartou. Foi-se embora da formiga que era.  




sábado, 9 de fevereiro de 2019

Traços e impressões


Dia de mudices:
moleques amuados,
cravinas caladas,
pássaros passados,
cidade silente;

Parece que o dia,
em seu pejo,
abriu um sumidouro
na corrente água
do desejo das gentes.



terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Pau D'Arco & Brumadinho


"Acostuma-te à lama que te espera",
ele diz.
Acostume-se, meu amigo, eu digo.

Acostume-se.

E se não à lama dos Anjos:
de viver entre feras, e por erro,
o inevitável desejar-se fera;

Àquela lama dos Deuses:
de ser tão e tanto de carne e osso,
de até morrer pelos deuses do ferro.




sábado, 2 de fevereiro de 2019

Os tempos verbais nas árvores




     Todo dia 
  a vida alada
  nos cala
  passados
  com presentes,
  
  Todo dia 
  a vida assobia
  em futuros
  frutos furta-cores
  travestidos
  de presentes,

  Todo dia 
  a vida
  em passarada
  nos (en)canta
  presentes.