segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

A árvore que me abre




             O natal é mesmo um tempo de revelações e exposições. As vitrines ficam mais atrativas, as cidades mais iluminadas e as casas espelham seus donos, nas decorações natalinas.  Falando dessas revelações, exponho-me para exemplificar. Sem pensar muito, fiz uma árvore de natal prateada. Nunca havia feito uma árvore monocromática, sempre fiz árvores multicoloridas. Desta vez, bolas, enfeites, laços de fita, tudo prata. Usei led na iluminação. Ficou claríssima. Mas o que ela diz de mim? Onde minha árvore me representa? 
             Primeiro, a luz brilhante, como Goethe no fim da vida: "Luz! Mais Luz!" Termino o ano vendo o escuro dele. Um ano de muitos "escondes", abstruso, de pouca clareza. Vejo isto não só em minhas relações, nas relações interpessoais e familiares que presenciei, mas também na vida do país, no mundo. Na semana passada, por exemplo, vimos juntos uma justiça brasileira aliada a políticos insistentes que querem manter muros altos de proteção onde não cabe defesa. No Bataclan de Paris com Hell's Angels, e na lama de Bento Rodrigues, tivemos tramoias e esconderijos. O rato. Para quem acredita, coincidentemente, 2015 é o ano do Rato no horóscopo chinês. O bicho esperto que vive enfurnado em buracos sombrios e é incansável em suas esperas na criação de oportunidades. Ano que vem, 2016, será o ano do macaco, o bicho que mais se aproxima do humano. Quem sabe o macaco nos ensinará, com graça, a evoluir nas questões políticas, humanas e pessoal.
            Mas, além da luz branca, cintilante, minha árvore prateada traz mais significados para questionamentos. Sem perceber coloquei laços, muitos laços. Então,  dos meus laços, quais deles eu preciso? Quais devo apertar, ou afrouxar?
            Da prata? Ora, sabemos, a platina é mais preciosa que o ouro. Vale mais. Pois é, talvez eu tenha que me fazer mais cara para mim mesma, para os que me rodeiam e para quem mais vier.
           E sua árvore de natal? Como você se lê nela? E se ela não existe, como você faria sua árvore?
           Que venha um natal de abençoada conscientização para todos nós, e um ano novo de resgate de nossos preciosos valores como patriotas e como pessoas.








 

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Das ilusões


    Tenho
    visão
    borrada
    e não vejo
    detalhes,
    querido.
    Por isso
    te confundi
    com meu
    grande amor.
 
 


terça-feira, 10 de novembro de 2015

Contradições


Vem a noite
com escuridades
vem o dia 
e alumia.
Vem o cão 
com seu sermão,
vem um Deus
com sabedoria.





quarta-feira, 4 de novembro de 2015

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Enredado em suas rendas

 

                    Notava que ela já escrevia sem as amarras nas mãos. Aquelas mãos agora bailavam libertas. Os dedos podiam saltitar sobre as teclas como que debulhados de uma espiga. Aqui na cama, pensamentos e cognições de combinações binárias me chegavam. Acolá, naquela mesa, o computador esperava por pensamentos femininos fugidios.
                 A renda telha acetinada não lhe cobria o corpo, muito mais o acariciava, desenhando em suas costas brancas e magras, umas flores grandes e determinadas que entravam pelos meus olhos espinhando-os. As mãos, a mesa, a cama, o computador, os pensamentos, o sistema, a trama da renda, as flores e seus espinhos turbilhonavam, redemoinhavam em minha cabeça. Tudo era dela. Tudo era ela. Eu não era, eu não tinha nada.
 

 


 

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

quarta-feira, 8 de abril de 2015

A égide



          E enquanto vinha do vento toda espécie de desaforo e violência no caule e nas folhas, os galhos se entrelaçavam em abraços cada vez mais sinceros e protetores. Permaneciam assim fechados numa teia enorme, agarradinhos. Ouviam sem medo, o uivo da tempestade e tinham suas dores umedecidas, balsamizadas, amortecidas pelos respingos do afeto da chuva que caía.   

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Dissidência


Hermé Antune

Ajeitou os cabelos
Pintou a boca
Tirou o roupão
Vestiu-se de seda
Despiu-se do anel
e saiu em protesto
contra sua solidão.