segunda-feira, 26 de agosto de 2019
"Cheiro frutado"
Cabelos desfiados,
Passado sem ecos,
Presente sem desvios:
meu alegre romanzal.
Um pé de amor, outro dá.
Nas mãos, a calma dos pomares,
Nos olhos, um verde abacateiro,
No sorriso _ meu anjal _
Um pé de amor, outro dá.
E nos braços,
esse amortecer da paina
que me abarca eu mundo inteiro.
sábado, 24 de agosto de 2019
"Morros"
Subia a ladeira
do mundo
num devagar adulto
(ia aos seus)
Desceu a ladeira
da vida
num embalo de moleque
(foi a Deus)
sexta-feira, 23 de agosto de 2019
"Pianinho"
Ding, dong... ding, dong...!
Pianinho, pianinho...
musicas-me ao ouvido,
e me musicas toda,
quando tocas meu vestido.
Elas por elas
Era ira.
E de ira urra,
brame, berra.
Avexa,
faz enxame,
faz inchume
Sofre, a mulher
Birra, denuncia,
faz queixumes
Vem a lume a lei
E sofra, homem.
quinta-feira, 22 de agosto de 2019
"Tapumes"
Rara, a vida.
E errar a ida: um caro instante.
Mulheres, lamento: enroupem-se,
Gasalhem-se perante homens
que não gargalham sentimentos.
quinta-feira, 15 de agosto de 2019
Mapeamento
Agosto.
Lua cheia de mim.
Nuvenzinhas brancas raiam,
povoam minha cabeça azulada.
Na previsão do meu tempo,
o sol aparece rindo,
a lua fura ondas no céu.
Aquilon, vento norte,
o tal vento forte da revelação,
desempoa, espana meu mapa astral.
quarta-feira, 14 de agosto de 2019
Miolo, redundante miolo
Grão de girassol
Gira ao sol
Gira só
Só gira
Sementes de girassol
Giram ao sol
Giram a sós
Somente giram
(procuram luz)
No escuro semeio das sementes,
na clara flora dos girassóis,
entrementes, perdemo-nos.
segunda-feira, 5 de agosto de 2019
"A mulher que vem lá"
As árvores de Brasília se acarinhavam ventadas, sedentas, empoeiradas do agosto; assim como os indigentes, que assoprados de casa e empoeirados de desgostos, esteiam-se com sede de carinho, quando na cruviana das madrugadas. A mulher que vinha pela rua, pelo mundo, não via vento virado, árvores, indigentes, poesia, agosto. Passava. Alheia, já outubrava: sem espera, sem escora, sem escolta, sem encosto.
sexta-feira, 2 de agosto de 2019
"O doído de uns olhos"
Dolorosíssimos
olhos do homem
na fila do pão;
Doía a toda alma,
a todo corpo
que dele se abeirasse,
Doía no pão,
na farinha, no trigo;
Doía a mãe no umbigo,
Doía no pão de cada dia,
Doía no pai nosso.
Ave-maria.
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