sábado, 29 de fevereiro de 2020

Dupla negativa

  Se te agrada,
  somos iguais:
  nós dois
  amamos
  essas coisas
  que não acabam
  em nada.



quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Minha absoluta incerteza



Sonha doce
em minha eira,

Achega-te,
Beira-me,

Pousa à sombra
da minha asa, copaíba, aba;

Carambola, ingá, cajá,
manga, mangaba;

Em meu cerrado, a flor da gabiroba
abre saudades;

Já penso ir-me embora,
E já vou indo.

Somos frutas ímpares
em pares;

Quero-te solto 
em meu chão,

Te quero 
preso nos ares,

Quero-te 
ilha, liberto,

Te quero (de longe)
Bem perto;

Fruta desverde
apensa ao pé,

Fruta madura
desprendida;

E digo que te quero, eu,
Logo eu, que tenho gasto
tanto adeus em minha vida...!



segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

"Num jardim da vida"


                           Resultado de imagem para manacá flor
       
     Lá lavandas cheiram
     sem rima
     
     Ali lírios lívidos
     aliterados
     
     Cá o manacá
     cachos de amores roxos
     suspensos a nos machucar 
     
   
   


terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

O onde



Madrugadinha:
há escuros
nos nossos jardins;

Canteiros dormidos,
Margaridas mudas,
Narcisos cegos.

Um no outro,
Acendemos as luzes
de nossas mãos,

É então que
nossas mãos luzidias,
falantes, ditam os caminhos...




domingo, 16 de fevereiro de 2020

"O espetáculo"



              Num pé só
              ela rodopia,
              Corrupia tonta,

              Voluteia,
              volve,
              volteia,

              Árdega,
              sôfrega,
              embutida,

              Saci,
              Fouetté,
              Gravita em si.
           
              Sem freios,
              gira, a vida.
           


sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

"Più o meno"


       
Brasília
luzia
e escurecia

A quadra
entre a noite
e o dia
           
A vida
meio cheia
meio vazia



O peso da fé


                                   

         Ah, benzinho,
         que vida cara...!

         Meu bem,
         que vida
         que nos custa tanto;
       
         Custa-nos crer
         no que passamos
         juntos;
     
         Custa-nos crer
         no que vivemos
         separados;

         Custa-nos crer
         no que viria;
       
         Custa-nos crer
         que acreditamos
         em nós dois um dia.

     


quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Qual é a sua África?




Que dezembro riu,
que amorenou meu amor assim?
Qual é a sua África?

Que mar se abriu
que você, caminho,
apareceu?

Você veio vida vento,
meio sem graça,
meio reza, batuque lento,

Traz a sorte, mais que isso:
raça, pimenta, encanto, 
toda cor, todo feitiço;

É muxongo com abará
Búzios com agogô,
berimbau com cafuné,
acarajé com tambor

Nossa história e tua fé,
Cá comigo e Caculé....!

Tudo do seu mundo negro
É lua branca no meu mundo;

Vem, risca meu chão
feito santo,
Branqueia outro riso meu,

Põe minha poesia
Na mala, na cama,
diz que me ama, eu acredito;

Põe meu escuro pra dormir lá fora,
bota meu sonho tristonho
embaixo da asa, leva embora,

Assopra no meu sono, moreno,
O amor existe,
Vi o amor inda agora,

Ah, meu preto,
Da boca de amora,
O amor mora por aqui.  






quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Presente.




A noite caminha para o fim,
Na madrugada
pensamentos ciganeiam
ruas compridas,
labirínticas,
mal iluminadas:
Sou eu tua insolente insônia,
Santuários, umbrais;
Um ás, uns ais.
Volteio artístico
na finitude
de teus sulcos cerebrais,
Glutinosa,
viva,
Sou clímax:
cume da tua narrativa,
látex no teu córtex.
Teu cumprir.
Ando teu infinito estar
e deixo-me
escapulir derretida,
salgada,
no contrair da tua face,
no escuro do teu lugar.




terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

O emerso


                            

               O tempo nada pra longe as velhas histórias e com a brisa vêm novos alcances. Ouço conchas. Hoje quando me perguntam como ele era, digo que era um tipo qualquer, comum, simples: tinha corações tatuados na planta dos pés, era cheio de alturas e de parcas grandezas.