terça-feira, 7 de abril de 2020

Os olhos silentes da lua

         

           Abril, outono de 2020, tempo escuro, um breu. E a lua tentava, feito lua mesmo, aclarar as noites escuras dadas pelos dias. E a lua insistia em brilhar o céu dos antigos meninos da terra que brincavam de roda, de amarelinha, de pique-salva debaixo de sua luz. À porta da lua. 
             E a lua em sua roda fingia não ver a roda da doença, a roda da fortuna, a roda ciência, a roda política, a roda das clausuras, a roda mundo, a roda.
                E a lua fazia de conta que não enxergava que o céu era só dela e do chão da amarelinha. De mais ninguém. 
               E a lua em sua clareza sabia que para muitos não existiria o lugar a salvo do pique-lata. 




quarta-feira, 1 de abril de 2020

Redondices



A lua
nasce
para crescer lua

A lua cresce
para se encher
de lua

A lua se enche
para se esvaziar
de lua

A lua
míngua
para se inovar

E crescer para lua
E se encher de lua
E se esvaziar de lua

E tudo de novo
E tudo de nova

Ora é a coisa toda _ um ovo
Ora é coisa nenhuma _ uma ova




Florboleta



Cá isolada
num canto
tanta
borboleta vejo

Em tal porção
que cada flor
recebe beijo
de uma cor