terça-feira, 29 de agosto de 2017
Imprecisões
Naqueles
olhos amarelos,
um porto
ensolarado.
Os navios
que de lá
zarpavam
eram sobejos
de verdades
amareladas
indo embora
de mim.
Aqueles
olhos porto
alaranjado,
minha
imprecisão
de sina
e a ginga
dos navios
na água,
me fizeram
zíngara.
Uma cigana
a enveredar,
acobreada,
por uns olhos
marejados.
sexta-feira, 25 de agosto de 2017
Santa morte
Quando eu solto Barrabás,
te desprendo, meu amor.
Quando solto Barrabás
é a ti que despenitencio.
Que não te enganes:
tu vieste à lança, às pontas.
E pensar em nós foi sempre
doer espinhos na testa.
Quando solto Barrabás,
não é para essa tristeza infinda
de ver nos teus olhos a dor
da libertação que aí se aninha.
É mais, se não apenas;
para tua festa e a minha
de libertar-te desta vida.
Da tua vida de apenado,
da nossa vida de penas.
domingo, 20 de agosto de 2017
Das idas e vidas
Eu falo
que já vou tarde,
mas tenho olhos
pendurados
na volta.
Eu digo
que já vou indo
e olho para trás.
Levanto-me.
E mais uma vez
tem uma volta
irrequieta em mim.
Entendo.
É que falo
de adeus
com a mesma
incerteza
de quem,
numa corda tesa,
caminha
sobre o abismo.
sexta-feira, 18 de agosto de 2017
Viagem
A estrada
que leva
o sol embora
me leva
pra casa.
Pássaros voam.
Voo estrada,
voo vida,
vou com os pássaros.
A estrada
que leva embora
os pássaros,
voa vida,
voa sol,
voa eu.
A estrada
que leva embora
a vida:
vou sol,
vou pássaro,
vou eu.
terça-feira, 15 de agosto de 2017
Adultices
Mundo
bala
de gelatina,
mundo
bala de aço.
Mundo
bolhinha
de sabão,
mundo
bolinha
de nióbio.
Mundo
sangue
no olho,
mundo
bala
na agulha:
mundo
adolescente
em conflito
com a lei.
domingo, 13 de agosto de 2017
"A passagem"
caminho
do aeroporto JK
há um túnel
dourado
que para no ar;
Paira,
plana
sobre
as vontades.
Enleva:
me põe
no caminho
do meio.
E eixa:
me impõe
rumo certo.
Dobra-me
em tantos
dáblios.
Dablia:
me faz repetir.
Túnel
que asa,
que infla,
que me solta
em pipa,
que me mariposa.
Ponte
movediça
sobre o nada
de um rio.
Meu móbil.
Passagem
guindada,
aérea,
pêndulo áureo
do meu vazio.
Meu móbile.
Infindo arco
iluminado
que me acopla
à sua presença;
E me venta,
e me bafeja,
e me assopra em você.
quinta-feira, 10 de agosto de 2017
quarta-feira, 9 de agosto de 2017
Novelo sem pontas
Perguntam-me
se acabou.
Não. Sim.
Não sei.
Eu nunca
soube de nada.
Não entendo
de fins.
Sei tão só,
que tuas paredes
ainda povoam
minha casa.
És tranca,
tronco,
quartos
e membros,
além do pó
na minha
(estanque)
sala de visitas.
Fica no fim
do meu corredor,
teu espelho
mais embaçado.
É no teu tapete
que tropeço,
que me arrasto.
É no teu tronco,
que teço teias
sem ver tuas pontas.
É no adocicado
de minhas veias,
que te seivas tonto
sem que vejas o meu fim.
domingo, 6 de agosto de 2017
quarta-feira, 2 de agosto de 2017
Um inocente carinho
Ele fala
com a mão no peito,
como quem diz:
"é aqui que dói".
E cada vez
que leva a mão
a essas feridas,
ele reduz suas chagas
mesmo sem saber
que o faz.
terça-feira, 1 de agosto de 2017
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