Escrevo ao vento. Que rouba
estrofes, que destrói versos e leva embora minhas rimas. Já roubou de mim um
sem número de contos, poemas e histórias que bem poderiam viver em livros, não
fossem suas levas. Carrega para longe de minhas mãos o peso que quero dar,
escrevendo, e não mais o assenta. Arranca os acentos de minhas palavras ressignificando-as como acha certo.
O vento, ah, o vento! O vento não tem
sido bom comigo. Leva minha voz escrita, leva o que demais me pertence,
escamoteia o que de mais eu quero. Há pouco falava de amor e o que fez o vento?
Ele, ardiloso, se achegou vestido numa brisa leve a acariciar- me o rosto e
quando vi tinha desviado minhas palavrinhas mélicas do poema. Insisti, mudei. Falei de uma
realidade mais dura e ainda mais descomposta (se é que existe) que a do amor que vivi travestido em palavras
doces. Ele, então, veio uivando e babando como um cachorro louco, rasgou letras, trocou regras gramaticais, engoliu
meu dicionário. Queria dar notícias dissimuladas, afinal sou jornalista,
pensava eu. Mas o vento impediu. Dessa vez veio bento não sei de que lado: desolou todos os pobres de minhas
enchentes, derrubou meus empoderados políticos, golpeou minhas economias, acelerou
tragédias iminentes. Guerreou comigo. Fez como quis.
Antes, as retiradas do vento ficassem ali, no
campo da poesia, ou até da realidade da palavra vencida, a escrita. Mas
não para por aí. O vento quer ainda mais levar de mim. Acredita? Crudelíssimo.
Por último, tem tentado afastar meu corpo franzino de quem melhor o tem amado.
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