quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Volare







         Na loja de brinquedos a meninazinha indignada olha para a mãe e diz: _ Por que tenho que escolher entre esta cor e aquela, entre este ou aquele brinquedo? A mãe responde ainda sem saber por que o diz, sobre as vantagens de se poder escolher. A mãe tenta mostrar a eterna investida das escolhas na vida das pessoas e a inevitável assiduidade do escolher. “Isso é assim a vida toda”, diz a mãe, à filha. Nem explica tanto, mas deixa subentendido que escolher é bom.
        A menina cresce, mas não gosta quando surgem as alternativas. Quer voar para esquecê-las. Torna-se adolescente, se esbarra nas escolhas e enquanto pensa no bom de escolher, não escolhe a contento. Assim nunca se convence da escolha como coisa boa. Adulta escolhe viver como a mãe e vive escolhendo, por achar que escolher é necessário e bom. Segue entre o isto e o aquilo, todo tempo. A profissão, suas parcerias, seus partidos políticos, instrumentos musicais, os amigos, casas, músicas, flores, agulhas, chaves, cursos, maquiagens, livros, estilos e tudo o mais. A vida segue e a deixa cega de escolhas. Ela quer voar para esquecer...
        Acontece que quando se pensa entender a vida, ela nos rasteira. Adulta, a meninazinha entende que realmente, uma grande parte da vida é por ela escolhida. Mas há outra, uma parte mais rígida, imposta pelo social e disposta nas crenças, na cultura,  já embutida nas opções.
      No fim, inimaginável por ela é a quantidade de acontecimentos determinantes em sua vida e independentes de suas escolhas. E eles, sim, voam intocáveis e inatingíveis. Não são ou serão impostos, mas surgem, ou surgirão por encanto numa espécie de magia do caminhar. São diversos e adversos os nomes dados na intenção de se definir essa coisa que acontece e foge de nosso controle. Chamam de acaso, coincidência, providência divina, fatalidade, sorte, azar, dita, desdita, destino, sina, fado, futuro, e por aí vai. Ou, por aí se vai... nessa trilha afofada de folhas, escolhe-se onde pisar sem nunca descobrir o que há embaixo do passo.... Segue-se pelo caminho sem saber o compasso. Toma-se um rumo novo sem entender o motivo... Pode-se escolher o abraço, mas nunca se tem a alternativa de enxergar o coração que mora atrás dele...


2 comentários:

  1. Adorei tua expressão, um mar de sensibilidade em cada frase.

    Parabéns, Lécia!

    Ótima sexta para você!

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    1. Obrigada, Will! Tenha um dia bacana e um bom Carnaval! Visitarei você nas suas..."Entrelinhas"! Um abraço

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