Ela jogou-se na cama fria e de olhos
estatelados, se olhava nos espelhos que a cercavam. De cada um deles surgiam várias mulheres. Todas, ela. Via-se infinita em suas possibilidades.
Uma sirene ensurdecedora e insistente enchia sua cabeça zonza. Seu corpo suava, suas mãos tremiam e seu coração era uma espécie de relógio descompassado que batia fora da hora. Um planeta sem órbita. Em uma parede via uns olhos vermelhos que combinavam com seu batom. Em sua cabeça, os pensamentos eram segmentados, destroçados. Nada seguia uma ordem, todo pensamento era incompletude. Cada fio de cabelo parecia um pensamento interrompido em seu comprimento. Tudo nela era indefinido e despedaçado. Sua memória dançava entre os tempos. Não se enxergava no presente, não estava no seu futuro e não se prendia a um passado. Estava solta, atemporal, sem sequência, quebrada e maltratada pelas pontas de espelhos do teto, das paredes, da cabeceira da cama. Seus pés, por causa da dança, doíam como nunca. Sentia todas as inervações de seu corpo e a dor se espalhava, ramificava quente pelos seus membros.
Perturbada, ela foi-se encolhendo devagarinho, formando com o corpo uma espécie de concha acústica que lembrava a posição fetal. E ali ficou, embrionária, larvária, por muito tempo. Queria dormir, não conseguia. A música alta latejava sem nenhum sentido e sem ritmo dentro dela. Estava ardendo, seu corpo queimava, ela se via incendiar. Via as labaredas que saiam de seu corpo magro, sem músculos. Seus ossos crepitavam no fogo. De medo, começou a se debater na cama. Ela sabia: entrava em erupção. Via seu sangue sair em jatos deixando seu corpo frouxo, murcho. Mas a natureza humana a tudo aquieta e tudo remedeia. Então, surge de um dos cantos espelhados do quarto, um pássaro minúsculo e pousa no antebraço dela; com seu bico agulhado faz um furo em sua carne e começa a assoprar forte, inflando-a. E aí, ela vai se enchendo, ficando cada vez mais leve, até sair flutuando entre as quatro paredes, multiplicada em mil. Ela ali, boiando no ar, no meio do quarto. Suspensa, lentamente ia ao teto, devagarinho descia ao chão, ia de uma parede a outra navegando no ar, dançando nua. E esvoaçante entre seus reflexos, pairou sobre a cabeceira da cama e adormeceu acalmada por seu bamboleio.
Uma sirene ensurdecedora e insistente enchia sua cabeça zonza. Seu corpo suava, suas mãos tremiam e seu coração era uma espécie de relógio descompassado que batia fora da hora. Um planeta sem órbita. Em uma parede via uns olhos vermelhos que combinavam com seu batom. Em sua cabeça, os pensamentos eram segmentados, destroçados. Nada seguia uma ordem, todo pensamento era incompletude. Cada fio de cabelo parecia um pensamento interrompido em seu comprimento. Tudo nela era indefinido e despedaçado. Sua memória dançava entre os tempos. Não se enxergava no presente, não estava no seu futuro e não se prendia a um passado. Estava solta, atemporal, sem sequência, quebrada e maltratada pelas pontas de espelhos do teto, das paredes, da cabeceira da cama. Seus pés, por causa da dança, doíam como nunca. Sentia todas as inervações de seu corpo e a dor se espalhava, ramificava quente pelos seus membros.
Perturbada, ela foi-se encolhendo devagarinho, formando com o corpo uma espécie de concha acústica que lembrava a posição fetal. E ali ficou, embrionária, larvária, por muito tempo. Queria dormir, não conseguia. A música alta latejava sem nenhum sentido e sem ritmo dentro dela. Estava ardendo, seu corpo queimava, ela se via incendiar. Via as labaredas que saiam de seu corpo magro, sem músculos. Seus ossos crepitavam no fogo. De medo, começou a se debater na cama. Ela sabia: entrava em erupção. Via seu sangue sair em jatos deixando seu corpo frouxo, murcho. Mas a natureza humana a tudo aquieta e tudo remedeia. Então, surge de um dos cantos espelhados do quarto, um pássaro minúsculo e pousa no antebraço dela; com seu bico agulhado faz um furo em sua carne e começa a assoprar forte, inflando-a. E aí, ela vai se enchendo, ficando cada vez mais leve, até sair flutuando entre as quatro paredes, multiplicada em mil. Ela ali, boiando no ar, no meio do quarto. Suspensa, lentamente ia ao teto, devagarinho descia ao chão, ia de uma parede a outra navegando no ar, dançando nua. E esvoaçante entre seus reflexos, pairou sobre a cabeceira da cama e adormeceu acalmada por seu bamboleio.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirConheço essa canção, todo mundo conhece.
ResponderExcluirO meu não é um canto, é um conto, Beth! Beijão pra você.
Excluirmas é também uma canção, que me lembrou outra canção
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