Outro dia um amigo me disse que eu precisava sair. Achou-me ensimesmada. Respondi a ele que estou presa por 'encanto'. Comecei a pensar sobre isso, me imaginar pondo a cara pra fora de casa. Abri uma frestinha de porta e pude ver, há um mundo lá fora. Estamos em primaveras: eu e a natureza. Vi árvores floradas, quietas, paradas como eu, e assim como eu, com aquela calma de quem acabou de parir. Fiquei presa no enquanto. Com ouvidos colados à parede e através de minhas janelas ouvi o mundo. Do alto. Ouvi o mundo sobre um rochedo, como o faz uma sereia. Um mundo assoviado por cigarras que me remontam ao passado. Exageradas, elas bebem todo o orvalho da noite, cantam à exaustão, estouram de cantar e ainda me apavoram.
Sim, estou presa em cantos. No canto das cigarras, no meu próprio canto. Na minha encantadora caladura de sereia trazida por Kafka, no seu "Silêncio das Sereias": "As sereias, porém, possuem uma arma mais terrível do que seu canto: seu silêncio."
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