terça-feira, 23 de outubro de 2012

Minha visão de seus olhos...




         Clarice Lispector, traz em sua poesia, algo que gosto de pensar como; ela diz assim: "Até onde posso vou deixando o melhor de mim...se alguém não viu, foi porque não me sentiu com o coração." Gosto disso, imagino todas as pessoas trazendo os seus melhores, nas mãos. Um "melhor" a ser visto, é claro, inundado de emoção. Desenfumaçado da inveja, desempoeirado da rigidez do pensamento, limpo da fuligem do preconceito, livre dos elos que formam as correntes do enxergar comum. É bom ver com olhos purificados assim. É bom olhar não só quem registra, ou quem escreve como vi, mas quem está ao nosso lado como sendo, sempre, um verdadeiro e gigantesco  poema. Sim, toda pessoa tem sua rima, sua métrica, sua versificação, sua concretude de poema, escondido atrás ali, da poesia que o forma. Os literatas fazem essa distinção: o poema é o concreto, o estrutural; e poesia, é parte subjetiva, é a inspiração do poeta. Cabe a nós desvelar esse sujeito, essa pessoa poema, descortinar esse espetáculo que é o outro.
          Enxerguemos com olho de Hórus. Segundo a lenda, Hórus tinha a cabeça de um falcão e os olhos representavam o sol e a lua. O olho direito simbolizava a informação concreta, com controle do hemisfério esquerdo do cérebro e voltado para as letras, os números, as palavras, representando o modo masculino de ver. Por outro lado, tem-se o olho esquerdo representando a informação abstrata, o feminino, os sentimentos, a intuição e uma visão espiritual, por assim dizer; sendo controlado pelo hemisfério direito do cérebro.
        Aqui, um verso meu, que gosto, parte desse olhar...talvez um pouco mais recatado e ressabiado, que devesse ser. Que seja aí, pelo menos um bom exemplo "a não ser seguido", quando se refere a investimentos humanos.
Esses olhos pretos, nacos de carvão
Nunca hei de atravessá-los...
Não ousei adentrar essa escuridão

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